segunda-feira, 25 de março de 2013

Receita - Nicolas Behr


Ingredientes:

2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles

Modo de preparar

dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração

leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas

corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver

parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Vergonha

Estava aquele frio de blusinha. Nada exagerado, uma camiseta de manga curta até dava, mas a pele arrepiava quando vinha o ventinho. Resolvi colocar uma camiseta de manga curta e um casaco por cima, tinha que ir trabalhar e as madrugadas são mais frias que o dia... Ia ficar um pouco mais frio, mas nem tanto. O Plano era jantar no restaurante perto da empresa e depois ir trabalhar... Fui pra parada e lá estava uma garota com transas, morena... Tinha uma cara de quem se chamava Nathália. Havia um garoto, gay obvio, os tênis laranja gigantescos e uma calça skinny apertadíssima, tinha cara de Pedro. Reparei que estavam olhando pro exagero do meu casaco. Tolos! Tinha uma madrugada pela frente, e o casaco ia ser útil... Mas eu estava tenso aos olhares julgadores, sendo que o Pedro estava só de camiseta e a Nathália com um casaquinho 10x mais fino que o meu. Nada do ônibus... Os fones de ouvidos pendiam no casaco e escapavam dos meus ouvidos de dois em dois minutos, eu estava atrapalhado... nada do ônibus. Começou a tocar just like a heaven do cure e isso combinou com aquele frio disfarçado, de imediato me lembrei do videoclipe gravado em cima de uns rochedos, num desfiladeiro que alcançava o mar e que o Robert Smith dançava com um fantasma... Chegou o ônibus, os ônibus na verdade, pois nunca vêm ônibus e quando vêm passam 4 juntos. Qualquer um me levaria para o trabalho, menos o bem da frente, e foi justamente esse que eu peguei, na ânsia de fugir daquela parada de ônibus eu fiz sinal com o braço pro primeiro, justo o errado. Não que ele não me levasse, ele até levaria, mas demoraria mais que o dobro dos outros, entraria em outro bairro pra depois me deixar perto da empresa, longe do restaurante. Reparei o erro quando o ônibus parou na minha frente, mas na hora um pânico de dizer pro motorista que eu me enganei foi maior, não queria passar pelo papel de ridículo, eu estava atrapalhado, o Pedro e a Nathália me olhavam com certeza, assim como todo ônibus... Eu estava realmente atrapalhado, subi no ônibus por classe, meu jantar foi por água abaixo, chegaria na empresa em cima da hora e ia ter que direto trabalhar, tudo isso pelo engano de parar o ônibus errado (os certos estavam logo atrás, e provavelmente o Pedro e a Nathalia subiram neles...), e a vergonha de dizer pro motorista que eu não queria aquele ônibus era maior. A Gente trava, a gente não fala, a boca fica rígida, e você é levado pela onda da sociabilidade, sem atritos, antes sofrer e não jantar do que causar aborrecimentos ao condutor da Visate. Estava de saco cheio de mim, sou um estúpido... Chego na catraca, e consigo visualizar todas as Paulas, os Marios, os Andrés e as Danieles que estão sentados no ônibus me olhando, rindo ridicularizando a minha cara, o meu casaco... Eu estava suando pela situação do ônibus errado, e estava com um casaco pra se usar nas neves... Muito cômico para eles, pois se eu apenas estivesse usando o casaco, seria motivos para olhares... mas eu estava suando e pra eles o suor era por causa do casaco abafador. Não era. Nessas situações eu tenho o dom de olhar pra cara dos debochadores e me deliciar com a natureza humana e o seu gosto pela tragédia alheia, nem que eu seja a vítima deles... Mas nessa situação eu estava tenso, nervoso, suando... com ódio mortal de mim. Entro no ônibus fingindo que sou só mais um ali, mas os olhares me rasgavam... Diferente dos olhares que inventei que estavam em mim quando me enganei na hora de entrar no ônibus, aqueles olhares ali eram reais. Eu sento. Há lugar na janela, tenho vergonha até de respirar, olho discretamente pro meu reflexo no vidro do ônibus e vejo meu rosto encharcado de suor, a imagem dele era pior do que a que eu imaginei. Calma Matteus, calma. Ninguém lembrará depois disso, calma. Nesses momentos tento me acalmar, mas é em vão... Nem a canção do Fairpoart Convention nos fones me acalmam. Tenho pânico, o simples fato de passar a mão na testa e limpar o suor é insustentável, seria uma acusação, todos estão vendo... Até o motorista que está á na frente está me vendo de alguma forma. Eu sou o assunto no ônibus, o freak show... Não sou, claro, mas meu cérebro está gritando dizendo que eu sou. 20 minutos que parecem 2 horas se passam e eu desço. Levanto, a porta nunca abre, todos estão olhando, eles estão pensando "o esquisito vai descer", e eu desço. Desço os degraus e as pernas ficam imóveis por 5 segundos, aí sim caminho... O ônibus se vai, a rua escura, o vento gostoso bate como uma brisa fresca na minha testa que já se acalmou de jorrar suor. Passo a mão na testa, não têm ninguém olhando... eu acho. No ônibus as pessoas estão soltando gargalhadas que ficaram entaladas pela minha presença, agora desconhecidos conversam entre si sobre o meu fiasco, o meu fracasso. Tenho fome, não tem jantar. Tenho que trabalhar....

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

"Cinéfilos culturetes"


Não sei se posso ser considerado um cinéfilo, pois ninguém que gosta  dos filmes do Spielberg pode ser considerado um cinéfilo. A Primeira  vez que assisti um filme do Truffaut eu dormi mais que a noite da sexta feira santa em que eu subi e desci o cerro do panchito morto de cansaço pra levantar minha pandorga. Esse culto a chatice cinematográfica é uma das marcas irredutíveis desses 'culturetes', os quais eu abomino. Isso porque eu não citei aquele filme iraniano com um surdo, um cão e um violino, sem história alguma (ao menos que o surdo mate o cão com o violino), até porque todo filme pro público culturete tem história, o que ele não tem é clímax. Pode ser a sequencia de coisas que acontecem no cotidiano, sem exatamente um começo, não se desenvolve e de repente acaba. Mas tudo bem... eles vêm do Afeganistão, Irã, ou de algum país sem tradição cinematográfica... Então é um filmaço!!!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Anonimato na internet.

   Inacreditável a alienação dos comentários das pessoas no portal G1. Comentários que estragam um portal de altíssima qualidade jornalística. É tanta mesquinharia, (falsos) moralistas, anarquistas de internet, 'religiosos' carregados de preconceitos... Prefiro acreditar que nenhuma dessas pessoas passou por alguma perda de um parente muito próximo e não sabem da dor. Não quero impor nada, não acho que alguém deve ter pena ou ficar se importando, mas respeito é universal. E isso não se trata apenas das vítimas da tragédia. São comentários assustadores, e o pior é que se trata da maioria dos comentários e não de uma minoria insignificante que possamos deixar afundar em suas ignorâncias.
Vou citar um exemplo de má interpretação de texto e matéria: Uma das reportagens dizia que uma das vítimas era dançarina, e os colegas de dança dela começaram a dançar ao redor do caixão em forma de homenagem com a moça. Foi um dos estopim para uma lavagem de comentário ridiculos e intolerantes: "Que absurdo! essa gentalha não sabe respeitar nem um cadáver?" escreveu um dos leitores, outro escreveu assim: "Deus repudia isso, mostrou a esses pecadores o errado e penalizou a menina, e o grupo de amigos vão lá e ainda zombam do nosso salvador". Sim, eu li isso. Pra começar já dá pra dizer de antemão que essas pessoas nada tem a ver com a vítima, não aconteceu com elas, elas não são da família e se a moça saiu numa casa noturna é porque ela gosta e quis, dá pra deixar o falso moralismo de lado??? Além do mais, esses amigos estavam lá pra fazer uma última homenagem para a moça, olha que lindo, que emocionante isso, tenho certeza que ela ficaria orgulhosa. Simples de entender né?  Mas não! As mulas nos comentários se prontificaram de fazer uma enxurrada de ignorância em forma de palavras.

   Isso é sério, mais do que a gente imagina. A forma (des) humana de usar a internet, gente que vira monstro, que mostra sua verdadeira e assustadora face ao usufruir da anonimidade da internet.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Cotidiano

Domingo a noite, começa o tele domingo, droga! Já é segunda. Começa segunda, dia enfadonho, dormir dormir dormir... Leia um livro Matteus, leio o livro. Dormir. Internet, onde leia-se facebook, alguma polêmica, alguns vídeos, youtube, banho, comer, trabalho. Vestir a casaca do outro Matteus: O profissional. Rir, rir, rir, escrever, trabalhar, concordar com o senso comum, digitar, rir, comentar sobre o tempo, atender telefone, xingar alguém, 'boa viagem senhor motorista', rir, digitar, banheiro, bater o ponto, visate, casa, banho, internet, dormir, acordar, banheiro, dormir. Droga, é terça feira. acordar, internet, dormir, comer, trabalhar. Estamos com sorte, já passou a terça. O Matteus profissional volta a tona... O falso Matteus, aquele que não gosta de John Wayne Gacy e ama conversar sobre o tempo. O mesmo ciclo, bater o ponto, visate, casa... Ufa! Quarta de manhã. Dormir? OK... Pedir demais... Tentar dormir... Nada de sono. Ler? Não, mente agitada demais... Jogar sinuca online, se vencer sigo, se perder tento dormir. Num momento o sono vem... Acorda, banheiro, volta ao sono, internet, banho, trabalho. Quinta, sexta, sábado! OK... Sábado de manhã, algumas lamentações sobre ter que trabalhar no final de semana, ou sobre não ter que trabalhar mas não ter o que fazer... internet, livro, dormir... Algum filme. Café não, chimarrão ok. Dieta, alimentos saudáveis, banho... Cinema? Sozinho, ok, nada mal. Sábado a noite... Internet, me irritando com a felicidade facebookiana alheia, dormir, algum filme na madrugada, alguma música... alguma coisa! Opa, já é domingo de manhã, internet, passou toda a manhã... Domingo ao meio dia.. ok, almoço. Se eu tiver sorte vai ter churrasco, comprar churrasco pronto... Espero não me contentar com a miojo... Inaceitável! Almoçar no shooping... ok, a melancolia da solidão ali é reprimido por uma comida de restaurante bem feita. Livros, tentar comprar... Droga! Maldito domingo, pior dia, hora de reclamar, mau humor, barriga cheia... Alguma piada pra postar no facebook? Talvez surja... Ainda irei pegar o visate pra voltar pra casa... Gente feia, gente bonita. Ir pra casa, impressionante como já são 19 horas. Chimarrão, música, internet... Talvez um filme... Vinheta do tele domingo... Droga! A Segunda bate a minha porta....

Vida de cão, vida de estudante longe da família... Nada difere. Menos pessoas, tempo gasto em internet e música de sobra. Bater o ponto, dormir!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Retorno?

Escrever... ahh escrever. Velho vício que me expõem, não sei escrever só pra mim, embora seja redundante sendo que na maioria das vezes ninguém lê, ninguém dá a mínima. Mas está exposto se alguém quiser ler, e isso já se torna uma área de escape que me conforta.
Meu problema é não seguir certas rotinas, estou querendo voltar a escrever aqui a tempos, mas vou deixando pra depois... Acredito que as postagens nesse blog não vão voltar a ser frequentes, hoje escrevo, amanhã não sei. Mas estou aqui, e ainda lembro a senha! Não precisou restaurar a senha do blog, eu sabia ela... Isso é um sinal de que esse (inútil) blog continua em mim, meus compromissos com ele são frágeis: Cá estou, cá não estou. Então não esperem nada de mim, sim, escrevo 'esperem' no plural pois tenho o suave ego de achar que alguém (e mais de um ainda) acessa aqui. Não sei, não me interessa, nunca saberei... Mas esse 'achar' é que alimenta eu voltar aqui. O que eu trago de novo? Nada, só a vontade de escrever. Eu poderia preencher esse blog se pegar tudo o que eu escrevo e salvo em pastas perdidas do meu notebook, mas isso é passado. (Quem vai se interessar pelo que um chato como eu escrevo? Essas grandes tolices de 'escritores' de internet nanana). Prefiro usar o editor direto do blog, ao vivo, a cores. Escreveu-postou, sem ensaios... Como sempre foi. Sigo escrevendo, só não dou as caras aqui.

Um retorno? Talvez... Fui.